O dia já havia mudado...
a madrugada estava calorosa, gotas de suor molhavam o inicio da minha testa, abaixo dos cachos negros do meu cabelo já crescido.
Na televisão as mesmas faixas coloridas de sempre acompanhadas de um "pi" intenso e continuo.
Da janela dava-se pra ver o velho e famoso bar do Jó aonde o forró tocava alto e as prostitutas locais vinham e iam desfilando o que tinham de melhor... a experiencia.
Então eu lembrei da minha solidão,
desviei meu olhar pelas ruas que cortavam a esquina do bar,
eu ia entrar em um frenesi sem fim...
Fechei meus olhos, pensei um pouco, tirei da gaveta da escivaninha uma folha sufite, com a caneta tinteira tracei palavras bastante significativas:
Olá você...
Você que se foi, você que teve medo de lutar, você que lutou até o fim...
Como se sente sabendo que tudo girou tão rapido que ficamos tontos? todos tontos, perdidos, sozinhos.
Lágrimas rolaram no momento de sua despedida, aquela despedida que não se concluiu, você sumiu, sumiu antes do horario, sumiu antes do adeus.
Olá você que chega na calada da noite invadindo o meu segundo, o meu tempo, que queima meu corpo, que destroi o interior do meu peito.
Nós continuamos aqui subindo a grande escada... de joelhos... os pés ja estão em carne viva não suportam mais o peso, em nossas costas o mundo se equilibra, se encaixa entre nossos braços...
Você fugiu da nossa guerra, você se foi como um heroi, você largou o seu exercito, você fez isso, fez aquilo, você foi tanto e virou pó...
Como se sente causando rinite naqueles que te amaram?
Como uma peste desvastou tudo por onde passou e sumiu, acabou.
Tchau você que sempre esteve tão proximo mas mesmo assim nos deixou.
Larguei a caneta,
passei o olhar pelo escrito, lamentações, desabafos.
O pensamento foi cortado por uma Puta exigindo pagamento,
uma criança chorando no andar de cima,
um homem gritando com a mulher por ter perdido o emprego.
Rasguei minhas lagrimas, rasguei minha dor...
quem precisa sofrer pelo que já não se tem?